Além de reafirmar a importância e o compromisso com a Constituição Federal, o ato “Democracia Inabalada”, que reúne, nesta segunda-feira (8), representantes de instituições públicas brasileiras, celebra a restituição ao patrimônio público de itens depredados durante a invasão às sedes dos três poderes no dia 8 de janeiro de 2023.
“É preciso avançar cada vez mais na construção de uma democracia plena, uma democracia que se traduza em igualdade de direitos e oportunidades. Que promova a melhoria da qualidade de vida, sobretudo para quem mais precisa. Estamos nessa caminhada, e chegaremos mais longe se caminharmos de braços dados”, ressalta Lula.
Logo após a tentativa de golpe, equipes de limpeza, arquitetura, conservação e restauração iniciaram imediatamente a recuperação de telas, esculturas, mobiliário, tapeçarias, retratos e muitos outros itens. E agora, um ano depois, o trabalho está sendo reconhecido com exposições que reafirmam o caráter democrático e a pluralidade cultural do país.
“É preciso avançar cada vez mais na construção de uma democracia plena, uma democracia que se traduza em igualdade de direitos e oportunidades. Que promova a melhoria da qualidade de vida, sobretudo para quem mais precisa. Estamos nessa caminhada, e chegaremos mais longe se caminharmos de braços dados”, disse o presidente Lula durante a solenidade.
CONGRESSO NACIONAL – Autoridades do Senado fizeram a reintegração simbólica ao patrimônio público de uma tapeçaria de Burle Marx e de uma réplica da Constituição Federal de 1988.
A obra de Burle Marx (sem título) foi criada em 1973 e vandalizada durante a invasão do Congresso Nacional em 8 de janeiro. Os criminosos não apenas rasgaram, como também urinaram na peça. O trabalho de restauro teve de ser feito em um ateliê especializado em São Paulo, pois havia o risco de manchar o tecido de algodão se fosse lavado. A restauração envolveu o trabalho de oito profissionais e custou R$ 236,2 mil.
Após minucioso trabalho, a tapeçaria voltou ao patrimônio do Senado. Já a réplica da Constituição foi recuperada, sem qualquer dano, após ter sido furtada da sede do Supremo, também no dia 8 de janeiro. O exemplar foi entregue à Polícia Federal de Varginha, em Minas Gerais, pelo designer Marcelo Fernandes Lima, 50 anos, de São Lourenço (MG). Ele participou dos atos e disse que tomou o livro das mãos de outras pessoas para evitar que fosse destruído.
Ainda no primeiro aniversário dos eventos na Praça dos Três Poderes, a Câmara dos Deputados inaugura a exposição “8 de janeiro”, no Salão Verde, com o intuito de motivar a reflexão sobre a importância do parlamento como espaço de diálogo entre os divergentes e a formação de consensos na conhecida “Casa do Povo”. A exposição fica aberta ao público até 29 de março, das 8h às 17h.
“Este não é um ato meramente simbólico. É um momento de reafirmação da força da democracia brasileira, e o nosso compromisso com os valores democráticos. Estamos aqui para assegurar ao povo que a Constituição foi e continuará sendo cumprida”, disse o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco.
“É chegada a hora, um ano após essa tragédia, de abrir o Congresso Nacional para o povo brasileiro, retirar as grades que circundam o Congresso, para que todos tenham compreensão de que essa é a Casa do Povo, onde as decisões devem ser tomadas para o rumo do Brasil”, finalizou Pacheco.
O restaurador do Senado, Nonato Nascimento, atua há cerca de 20 anos nas duas Casas do Congresso. De acordo com ele, a restauração das obras de arte danificadas se transformou num símbolo do fracasso dos atos antidemocráticos. “A democracia não se representa naquelas obras que foram danificadas, mas agora ela vai ter um significado. Quando a pessoa chegar para olhar essa obra, vai ver o que aconteceu, que foi um ataque que não teve resultado para eles a não ser o resultado negativo. Elas vão chamar muito mais atenção do que antes. É o caso da tapeçaria do Burle Marx. Todo visitante quer saber exatamente qual é a obra que foi danificada. Isso é o lado positivo. As pessoas não tinham tanto conhecimento.”
“Foram 21 peças danificadas e, dessas 21, faltam apenas duas peças. As outras 19 obras de arte já foram restauradas e devolvidas aos seus lugares. No evento, nós vamos dar destaque à tapeçaria de Burle Marx, que foi vandalizada, foi arrancada da parede, rasgada, contaminada por urina e pó de extintor de incêndio. Essa obra vai estar em destaque representando o retorno dessas peças e o fortalecimento da democracia”, destacou a coordenadora do Museu Histórico do Senado, Maria Cristina Monteiro.
Entre as peças que ainda serão restauradas e devem ser entregues este ano está um painel de Athos Bulcão que tem arranhões provocados por estilhaços de vidro e marcas de tiro de arma de pressão.
STF – Até o momento, foram restaurados 116 itens do acervo do Supremo Tribunal Federal: 22 esculturas (bustos, estatuetas, itens do Plenário e a estátua “A Justiça”, da Praça dos Três Poderes); 21 telas e tapeçarias; quatro galerias de retratos (Galeria de Ministros, de Presidentes, de Diretores-Gerais e Secretários-Gerais); 19 objetos (lustres, Brasão da República, vasos); e 50 itens de mobiliário (cadeiras, mesas, móvel expositor da Constituição, etc.).
A restauração de três espelhos e nove cadeiras ainda não foi concluída, porque dependem de material específico que está sendo adquirido. Também foi necessário substituir quatro obras do fotógrafo Sebastião Salgado.
Outros 15 itens, entre vasos e mobiliários, que sofreram mais avarias, estão sendo avaliados para definição da técnica mais apropriada e do material necessário. Foram perdidos outros 106 itens históricos de valor imensurável, como esculturas e móveis que não puderam ser restaurados e não podem ser repostos.
RESTAURAÇÃO – Os itens do acervo histórico e artístico do STF que foram danificados durante o atentado estão sendo recuperados pelo Laboratório de Restauro do tribunal, e fazem parte da exposição “Após 8 de janeiro: Reconstrução, Memória e Democracia”, inaugurada nesta segunda-feira (8). Logo após a perícia, a equipe de restauradores fez um salvamento inicial das peças, para interromper a deterioração causada pela exposição à água, ao pó dos extintores de incêndio e à luminosidade inadequada. Também foram recolhidos e separados fragmentos das obras.
A restauração envolveu obras de arte, mobiliário, presentes de chefes de Estado estrangeiros e objetos em geral. Entre as peças restauradas estão itens simbólicos do acervo, como o Brasão da República, a escultura em bronze “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti e o quadro “Os Bandeirantes de Ontem e de Hoje”, do artista plástico Massanori Uragami.
“A resposta do tribunal não veio com palavras, mas com ação. Em meio a toda a destruição, sobressai a face amorosa do dedicado trabalho de dezenas de servidores e colaboradores na reconstrução não apenas no Plenário, mas de todo o edifício”, destacou o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF.
PREJUÍZO – Apesar dos esforços das equipes, alguns itens e objetos não puderam ser recuperados. A destruição gerou prejuízo de mais de R$ 8,6 milhões, com 951 itens furtados, quebrados ou completamente destruídos.
Já a despesa para a reconstrução do Plenário, com troca de carpetes, cortinas e outros objetos, foi de mais de R$ 3,4 milhões, totalizando cerca de R$ 12 milhões em prejuízo para os cofres públicos.
PONTOS DE MEMÓRIA – Alguns objetos permaneceram, propositalmente, sem restauração. “Está sendo feito um meticuloso processo de restauração do acervo, mas há peças que não são passíveis de serem recuperadas. Como forma de documentar e proporcionar a reflexão sobre a gravidade do atentado, o Supremo criou pontos de memórias com as marcas da violência, e o objetivo é que os fatos vivenciados sejam parte da história da Corte e da sociedade brasileira”, destacou Barroso.
PRESIDÊNCIA – Vinte obras estão sendo tratadas em um laboratório montado no Palácio da Alvorada, a partir de um Acordo de Cooperação Técnica com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Universidade de Pelotas e Presidência da República, por meio da Diretoria Curatorial dos Palácios Presidenciais. Confira a lista de obras aqui .
O relógio Balthasar Martinot Boulle, do Século XVII, e a caixa de André Boulle, destruídos durante os atos de vandalismo, ainda serão revitalizados a partir de um Acordo de Cooperação Técnica formalizado com a Embaixada da Suíça no Brasil.
Segundo nota divulgada pela embaixada, os graves acontecimentos “despertaram profunda emoção na Suíça, assim como forte solidariedade com as instituições e a democracia brasileira. A Embaixada da Suíça em Brasília apresentou à Presidência da República uma iniciativa de restauração do patrimônio, parte fundamental da identidade e da memória do país”.
Um produtor suíço de relógios de longa tradição e experiência ofereceu o apoio de alguns dos maiores especialistas e artesãos para a restauração. Numa primeira avaliação, levando em conta os graves danos sofridos e as características e complexidade do relógio, identificou-se que seria necessário o engajamento de vários especialistas.
SERVIÇO
Exposição “8 de janeiro”
Visitação aberta ao público até 29 de março, das 8h às 17h
Onde: Salão Verde da Câmara dos Deputados
Exposição “Após 8 de janeiro: Reconstrução, Memória e Democracia”
Visitação aberta ao público: terça-feira (9), das 13h às 17h.
Local: térreo do Edifício-Sede do ST
Por Planalto