Em curso, caminhando a passos largos, a segunda maior apunhalada pelas costas do período pós-redemocratização : a do PT em Guilherme Boulos, principal liderança do PSOL.
Boulos, atendendo a um pedido da cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores, desistiu da sua candidatura à presidência da República na sucessão de 2022, facilitando assim o retorno de Lula ao cargo mais desejado do Poder Executivo.
Ficou combinado e sacramentado, com o aval de Lula, que a contrapartida pela desistência de Boulos seria o apoio do PT ao psolista na disputa pela Prefeitura de São Paulo, pelo cobiçado comando do Palácio do Anhangabaú.
Deram bolo em Boulos. O PT começa a ensaiar o discurso de candidatura própria. O chega pra lá na principal liderança do PSOL já vem sendo arquitetado pelas lideranças do lulopetismo paulistano.
O silêncio da cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores, sob a batuta da deputada federal Gleisi Hoffamann, é ensurdecedor. É um faz de conta que nada está acontecendo. Vale lembrar que Gleisi é extremamente obediente a Lula.
A punhalada que considero como a mais cruel, digna de um carrasco, foi a do ex-juiz Sérgio Moro no então senador Álvaro Dias (Podemos-PR), que até hoje sente a dor da inominável traição.
Moro, que como juiz da Lava Jato jogou a imprescindível imparcialidade na lata do lixo, terminou sendo o responsável pela elegibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva. Usou a magistratura como “cabo eleitoral” para penetrar na política partidária.
Moro, em curto espaço de tempo, de bolsonarista passou a ser anti bolsonariano. Depois virou novamente bolsonarista. Politicamente falando, é digno de pena. Um político desprezível. Um oportunista de plantão.
O tal do Moro procurou Álvaro Dias e disse que queria ser candidato ao Palácio do Planalto pela legenda. O então dirigente-mor do Podemos abriu todas as portas do partido para o presidenciável.
Dias, empolgado com a pretensão de Moro, chegou a usar o dinheiro dos fundos partidário e eleitoral para viabilizar a pré-candidatura do neofiliado. Salvo engano, foram gastos quase que R$ 3 milhões para dar visibilidade ao obsessivo desejo de Moro de ser a maior autoridade do Brasil.
Moro, diante de um Álvaro Dias cada vez mais entusiasmado com sua pré-candidatura, passou a fazer cafuné no seu mais novo líder. Não passava um dia sequer sem fazer elogios.
Na calada da noite, bem de mansinho para não acordar ninguém, se filia ao União Brasil. Agora não mais como presidenciável, mas como poslulante ao Senado e de olho em uma maior ajuda financeira para sua campanha, um faz-me-rir mais gordo.
Sérgio Moro, ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, defenestrado sem dó e piedade do ministério, sai candidato a senador pelo estado do Paraná e derrota Álvaro Dias, que não consegue se reeleger.
A punhalada de Moro vai ficar na história da República como a mais incisiva e malvada. Sem nenhum resquício de dúvida, a que exemplifica o jogo sujo, o vale-tudo para conquistar o poder.
O ex-todo poderoso juiz da Lava Jato, hoje um parlamentar medíocre, protagonizou uma tripla traição : traiu o presidente Bolsonaro, o senador Álvaro Dias e o Podemos.
Em relação a Guilherme Boulos, a Executiva nacional do PT precisa tomar uma posição, sob pena do “companheiro” ficar sendo chamado pela oposição de o “bobo da corte” do lulismo.
Marco Wense é Advogado, Comentarista político e Empresário