A servidora da Secretaria da Fazenda da Bahia, Berta Amaral, de 63 anos, afirma ter sido vítima de injúria racial e lesão física, na última sexta-feira (1º), na loja Carina Schutz, localizada na Rua Coronel Paiva, no Centro Histórico de Ilhéus. Segundo a idosa, a dona do estabelecimento, Carina Schutz, foi a autora das agressões. O caso foi parar na Delegacia.
Berta Amaral relata que foi à loja a convite de uma vendedora, que já havia lhe atendido em outros estabelecimentos. “Tudo aconteceu por volta das 15h30min”, recorda a servidora, em entrevista ao PIMENTA, por telefone. Ela diz que, durante o atendimento, Carina chamou a funcionária e afirmou que a cliente estava apenas enrolando, pois não pretendia comprar nada. A idosa sustenta que a lojista fez a declaração em alto e bom som, a ponto de ser ouvida em toda a loja.
Nesse momento, ainda conforme o relato da servidora, a funcionária da loja dirigiu-se até ela com o semblante abatido. Berta afirma ter dito à trabalhadora que não era necessário repetir a declaração que ela – Berta – atribui a Carina Schutz. A idosa conta que deixou o estabelecimento, mas decidiu voltar e confrontar a lojista.
Ao PIMENTA, Berta Amaral deu sua versão do ocorrido. Ela diz ter entrado na loja e a chamado a proprietária. “Dona Carina, eu vim aqui dizer à senhora que não julgue as pessoas pela cor da pele nem pela roupa que está vestida”. Conforme a servidora, a reação da empresária foi xingá-la. “Lixo! Você é um lixo, saia da minha loja, você não tem perfil para comprar na minha loja. Olha pra você, seu lixo, você é brega. Trapo, trapo”, teria gritado Carina Schutz.
Ainda segundo o depoimento de Berta Amaral à reportagem, os gritos da acusada a lançaram num estado de choque. “Eu paralisei, e ela disse: ‘de onde eu venho, eu tô acostumada com outro tipo de gente. Eu sou do Rio Grande do Sul, a minha terra é outro nível’”, relata a idosa, reproduzindo a declaração atribuída a Carina.
A servidora diz ter perguntado a mulher por que ela não voltava para o seu estado de origem. “Até então, eu não estava achando que era racismo. Eu tava meio que em transe ainda”, explica. Quando passou a interpretar a sequência de eventos como discriminação racial, Berta respondeu. “Olhei pra ela, analisei de cima a baixo e disse: ‘se tem algum lixo aqui, é você’”.
Foi nesse momento que, segundo Berta Amaral, Carina avançou em sua direção e a empurrou com força. A idosa afirma que, na queda, machucou os joelhos e a coluna. Acrescenta que fez uma cirurgia na coluna há pouco tempo e o local está muito dolorido. Nesta segunda-feira (4), buscou atendimento em um hospital privado de Ilhéus.
Além das lesões físicas, relata sofrimento psíquico. “Meu emocional está totalmente abalado. Estou tremendo. Hoje, me levantei para trabalhar e disse: não tenho condição nenhuma de chegar no trabalho”, diz a servidora, que ficará afastada das funções laborais até sexta-feira (8).
Com ajuda da filha, Maiana, que é advogada, Berta registrou ocorrência na Polícia Civil, ainda na sexta-feira, acusando a lojista de injúria racial e lesão corporal. No dia seguinte, a servidora passou por exame de corpo de delito. Procurada pela reportagem, a Polícia Civil confirmou o registro do caso e informou que a empresária Cláudia Schutz será ouvida na unidade policial, sem especificar a data da oitiva.
O PIMENTA tentou manter contato por telefone com Cláudia Schutz, nesta segunda-feira (4), mas as chamadas para os números telefônicos informados em seu perfil no Instagram não foram atendidas.
Fonte : Pimenta